terça-feira, 24 de abril de 2007

O pulsar descompassado

Seria bom termos um controle remoto de sentimentos. Seria muito fácil, apontar pra a gente mesmo ou pra outras pessoas.

Um botão para Liga / Desliga.

Aumenta!!! zip!
Diminui. zip!

Muda de canal. zip! zip! zip! zip!...

Apesar que, pessoalmente, acho muito bom o turbilhão desgovernado que é o meu coração.
O silêncio, a calmaria. A tempestade, a inquietudes. O pulsar descompassado sem dia nem hora marcada para chegar.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento

Vestidos com roupas simples, não muito limpas, ora com bonés de propaganda, ora com as cabeças expostas ao sol quente. Passo à passo, pé ante pé, calçando sandálias sujas, chinelos velhas, sapatos gastos, ou simplesmente com os pés chatos cheios de calos, descalços sob o asfalto; eles caminhavam juntos, em duas enormes filas sem início ou fim.

O dia era atípico para mim. Estava com o carro de minha irmã e fui pra o trabalho, com o ar-condicionado ligado, sem ter que esperar o maldito buzão. Assim que sai da Avenida Bonocô, deparei-me com o transito totalmente parado.

No lado extremo esquerdo da avenida que leva ao Iguatemi, duas filas de pessoas caminhavam: os sem terra (http://www.mst.org.br/mst/). Vim com o carro até onde o transito parava. Ninguém mais andava, além deles.

Parado, ao lado da fila, vi familias passando. Pobres. Poucos sorrisos no rosto. Uma tristeza incorporada. Claro que alguns riam e caminhavam. Alguns já se adaptaram à vida de sem terra e nem notavam o quão adaptados estão. Vendo de fora, basta olhar um pouco mais atento, e dá pra perceber.

Crianças, mulheres grávidas, homens jovens, homens velhos, senhoras de idade. Todos caminhavam e não paravam de andar. Lembrei de minha avó, das minhas tias. Toda uma vida vivida, trabalhando e ainda assim não poder descansar na velhice. Que país é esse?

Quem disser que são massa para manobras políticas, manipulados é porque não viu de perto os olhares, os rostos, os descalçados que caminham perdindo por terra, por igualdade, por liberdade.

Lembro de quando menor sonhar no mundo perfeito e das promessas de fazer um mundo melhor. Revivi tudo ao ver a a realidade. Que esse texto possa inspirar os que agem, porque eu ainda sou (covardemente) apenas das penas.

domingo, 15 de abril de 2007

Irrequieto


A mesmice do dia-a-dia, o tic-tac do relógio, o despertador que toca todo os dias às 6h50, e os subsequentes alarmes que são necessários pra que eu desperte, o mesmo caminho do trabalho, a falta de novos lugares, de sair pra dançar... está me deixando irrequieto.

As mesmas falas, as mesmas promessas, os mesmos sonhos, as mesmas piadas velhas, a mesma cama, travesseiro. O carro de lixo que passa às 2 da manhã, o passarinho que sempre entra na minha cozinha pra futucar as bananas...

O mesmo café da manhã a base de pão, cereal com iogurte e um pouco de mel pra adoçar a vida.

Tudo está me deixando entediado e a Lua nem ajuda. Hoje é final da fase minguante. Lua cheia de loucuras, apenas no final do mês.

Preciso mudar de hábito. Preciso mudar de quarto.
Hoje dormirei na sala. Por hoje, pra começar, basta isso.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Aula de computação


Minha mãe estava aqui no quarto contando sobre minha sobrinha no colegio, hoje. Ela faz 4 anos em agosto.

Hoje minha mãe foi busca-la e quando chegou na sala de aula, não a encontrou. Perguntou à professora que disse que ela estava na aula de computação.

- "Me deu uma vontade de rir. Essa menina dessa idade tendo essas aulas."

Risadas à parte, Giulia liga, desliga, escreve o nome, muda tamnho do texto, no word, volta com backspace, dá ENTER... e tira a maior onda:

- Titio... eu preciso escrever meu nome!!!!

Figuraça.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Doces e Crianças


Enquanto almoço, costumo observar entre uma mastigada e outra, as pessoas próximas. Umas conversando, outras esperando o tempo do almoço acabar pra poder bater o ponto, outras simplesmente comendo ou observando como eu. :)

Hoje, numa dessas observadas, notei que um senhor que estava sentado sozinho, e que minutos antes estava sizudamente almoçando, passou para uma expressão descontraida, um semblante de criança traquina, despreocupada com a vida. Podia perceber no sorriso discreto a vontade em a fazer alguma traquinagem.

Fiquei intrigado com aquele senhor. O que o fez mudar. Observei um pouco mais e em instantes, descobri o motivo. Um prato de sobremesa, cheio de brigadeiro, que ele criança, comia feliz.

Naquele momento, o trabalho, as dívidas e o escapamento furado do carro não mais existia para aquela criança diante do mágico doce. Sua mente enriquecia-se a cada colher deglutida, as sensações de criança, lembrando os brinquedos, o esconde-esconde, o carrinho-de-pau....

Por alguns instantes aquele senhor voltou no tempo, reviveu bons momentos e ganhou ânimo para mais alguns dias adulto. Até a próxima sobremesa.