quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Carambolas


O tempo conta de forma diferente para cada pessoa.

Eu ainda me vejo como o menino amarelo que brincava de Playmobil no canto do quarto sozinho durante horas e horas antes que meus colegas vizinhos chegassem ou partissem.

Era aonde eu criava meu próprio mundo, onde o bem sempre vencia o mal depois de sofrer um pouco, onde o mocinho sempre ficava com a mocinha no final e onde tudo poderia recomeçar no dia seguinte mesmo quando a empregada recebia ordem de minha mãe para botar abaixo as casas e o Forte Apache; era hora de limpar o quarto.

Eu ainda me vejo moleque, brincando de picula, de esconde-esconde, de gude, de soltar pipa na rua, de correr descalço pela calçada e fazer algazarra com os outros moleques.

Ainda lembro como se fosse ontem, das aulas da alfabetização, das mesas baixinhas e grandes que sentavam 4 colegas. Sou capaz até de lembrar de todas as salas de aula pelas quais passei. Das aulas de educação física quando eram ainda na garagem, e tinha que usar conga azul. Lembro da pia embaixo da escada que ficava no meio da escola e que sempre eu tinha que me abaixar, e também da pia que ficava no pavimento de cima no meio da escada que só passei a usar quando fomos para a 1° série. Das janelas laranja... de vários detalhes.

Lembro de tardes maravilhosas e intermináveis de desenhos na tv, durante as férias na casa de minha avó. De brincar com os gatos, de jogar burro, de catar feijão com minha tia durante a noite, de minha outra tia aplicar glacê nas pontas dos meus dedos só para eu poder lamber um-a-um. Lembro do meu tio trazendo bloquinhos para que eu pudesse escrever, de tirar um sono de tarde no quarto da frente da casa e minha avó e tias sempre colocarem uma cadeira para eu não cair da cama, mesmo tendo passado dos 10 anos... Lembro de percorrer e explorar o quintal até as bananeiras ou tentar tirar carambola do pé que havia no fundo da casa. Até hoje a palavra carambola representa pra mim parte da casa de minha avó.

Minha memória não me deixa esquecer que ainda sou o menino amarelo que ainda guarda viva na memória alguns dos melhores momentos da infância.


Mais cedo, havia muito tempo: tempo para planos, para imaginar, para construir, criar, fazer acontecer. Agora o tempo futuro parece espremido, os planos ficaram em segundo lugar.

Passei um bom tempo tentando escolher palavras certas, mas não há palavras certas pra descrever a angustia que invadiu o peito e alojou-se no coração, quase em forma de saudade.

Um dia, quem sabe, você entenda o que escrevi... o que senti. Um dia.