segunda-feira, 23 de abril de 2007

Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento

Vestidos com roupas simples, não muito limpas, ora com bonés de propaganda, ora com as cabeças expostas ao sol quente. Passo à passo, pé ante pé, calçando sandálias sujas, chinelos velhas, sapatos gastos, ou simplesmente com os pés chatos cheios de calos, descalços sob o asfalto; eles caminhavam juntos, em duas enormes filas sem início ou fim.

O dia era atípico para mim. Estava com o carro de minha irmã e fui pra o trabalho, com o ar-condicionado ligado, sem ter que esperar o maldito buzão. Assim que sai da Avenida Bonocô, deparei-me com o transito totalmente parado.

No lado extremo esquerdo da avenida que leva ao Iguatemi, duas filas de pessoas caminhavam: os sem terra (http://www.mst.org.br/mst/). Vim com o carro até onde o transito parava. Ninguém mais andava, além deles.

Parado, ao lado da fila, vi familias passando. Pobres. Poucos sorrisos no rosto. Uma tristeza incorporada. Claro que alguns riam e caminhavam. Alguns já se adaptaram à vida de sem terra e nem notavam o quão adaptados estão. Vendo de fora, basta olhar um pouco mais atento, e dá pra perceber.

Crianças, mulheres grávidas, homens jovens, homens velhos, senhoras de idade. Todos caminhavam e não paravam de andar. Lembrei de minha avó, das minhas tias. Toda uma vida vivida, trabalhando e ainda assim não poder descansar na velhice. Que país é esse?

Quem disser que são massa para manobras políticas, manipulados é porque não viu de perto os olhares, os rostos, os descalçados que caminham perdindo por terra, por igualdade, por liberdade.

Lembro de quando menor sonhar no mundo perfeito e das promessas de fazer um mundo melhor. Revivi tudo ao ver a a realidade. Que esse texto possa inspirar os que agem, porque eu ainda sou (covardemente) apenas das penas.